
Trabalho Noturno: Entenda as Regras da CLT
O trabalho noturno corresponde às atividades exercidas durante o período da noite, sendo regulamentado por normas próprias que estabelecem diferenças quanto à jornada e ao pagamento do empregado.

Giulia Soares
14 de outubro de 2025
6 min de leitura

Giulia Soares
14 de outubro de 2025
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Trabalho noturno: direitos, adicional e regulamentação
O trabalho noturno é aquele realizado em horários específicos durante a noite, com regras diferenciadas em relação à remuneração e à jornada.
No Brasil, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) estabelece normas que visam proteger o trabalhador, garantindo remuneração superior à do período diurno, bem como registro correto da jornada.
O que caracteriza o trabalho noturno urbano
Para o trabalhador urbano, considera-se noturno o expediente realizado entre 22 horas de um dia e 5 horas do dia seguinte.
Durante esse período, a hora de trabalho é calculada como 52 minutos e 30 segundos, em vez de 60 minutos, refletindo a legislação que reconhece o desgaste adicional do labor noturno.
Além disso, o trabalhador urbano tem direito a um adicional mínimo de 20% sobre a hora diurna, conforme o art. 73 da CLT.
Esse percentual deve ser aplicado mesmo quando a jornada excede o horário noturno, conforme estabelece a Súmula n. 60 do TST, garantindo o pagamento do adicional até o término da jornada noturna, mesmo se estender após as 5h da manhã.
Trabalho noturno rural: diferenças entre agricultura e pecuária
No meio rural, a legislação estabelece horários específicos:
- Agricultura: das 21h às 5h
- Pecuária: das 20h às 4h
Nesse contexto, a hora do trabalho noturno rural é considerada como 60 minutos e o adicional aplicado é de 25% sobre a remuneração normal, valorizando o esforço do trabalhador.
Adicional noturno e base legal
A Constituição Federal, em seu art. 7º, inciso IX, garante que a remuneração do trabalho noturno deve ser superior à do diurno, o que se concretiza pelo adicional noturno.
Os percentuais são os seguintes:
- Empregados urbanos e domésticos: adicional mínimo de 20% sobre a hora diurna (art. 73 da CLT);
- Empregados rurais: adicional de 25% sobre a remuneração normal, tanto na agricultura quanto na pecuária (art. 7º, parágrafo único, da Lei nº 5.889/1973).
O adicional noturno pago de forma habitual integra a remuneração para todos os efeitos legais — reflexos em férias, 13º salário, aviso prévio, FGTS e descanso semanal remunerado, conforme dispõe a Súmula 60, I, do TST.
Hora noturna reduzida
Uma das principais particularidades do trabalho noturno urbano e doméstico é a chamada hora noturna reduzida.
Nos termos do §1º do art. 73 da CLT, cada hora noturna equivale a 52 minutos e 30 segundos, e não a 60 minutos.
Essa ficção jurídica reduz o tempo considerado como uma hora de trabalho, funcionando como uma vantagem para o empregado.
Importante destacar que essa redução não se aplica ao trabalhador rural, cuja hora noturna mantém duração de 60 minutos.
Horas extras no período noturno
Quando o empregado realiza horas extras durante o trabalho noturno, ele tem direito ao recebimento dos dois adicionais: o adicional noturno e o adicional de hora extra, conforme a OJ nº 97 da SDI-1 do TST.
Além disso, segundo a Súmula 60, II, do TST, se o trabalhador cumprir integralmente sua jornada no período noturno e houver prorrogação em horário diurno, as horas excedentes também devem ser remuneradas como horas extras noturnas.
Alteração de turno e direito ao adicional
O empregado que é transferido do turno noturno para o diurno perde o direito ao adicional noturno, não havendo direito adquirido à vantagem.
Essa orientação decorre da Súmula 265 do TST, que reforça que o adicional somente é devido enquanto o trabalho for efetivamente noturno.
Súmula nº 265 do TST: A transferência para o período diurno de trabalho implica a perda do direito ao adicional noturno.
Observação importante
Para menores de 18 anos, o trabalho noturno é proibido, conforme o artigo 7º, inciso XXXIII, da Constituição Federal.
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:
XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos;
Controle da jornada e registro de horário
O empregador deve registrar a jornada do trabalhador, seja manual, mecânica ou eletronicamente, conforme previsto no art. 74 da CLT. Em estabelecimentos com mais de 20 empregados, a anotação de entrada e saída é obrigatória.
A Súmula n. 338 do TST reforça que o ônus da prova quanto à jornada cabe ao empregador.
Cartões de ponto padronizados ou idênticos diariamente não são válidos como prova da jornada efetiva, podendo ser revertida a presunção em favor do empregado.
Jornada 12x36 e trabalho noturno
Mesmo em regimes de 12x36, o trabalhador urbano tem direito ao adicional noturno pelo período das 22h às 5h, considerando a hora reduzida de 52 minutos e 30 segundos, com reflexos em todas as verbas trabalhistas.
Conclusão
O trabalho noturno exige atenção às regras legais, especialmente quanto ao cálculo da hora reduzida e ao adicional de 20% ou 25%, dependendo do setor.
A correta anotação da jornada e a observância das normas de segurança e saúde do trabalhador são fundamentais para evitar litígios trabalhistas.
Ter conhecimento da legislação, jurisprudência e súmulas aplicáveis garante segurança jurídica tanto para empregadores quanto para empregados, protegendo direitos e evitando passivos trabalhistas futuros.
O conteúdo deste artigo baseia-se na legislação vigente e tem finalidade informativa.
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