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Princípio da Insignificância: O Que É e Quando se Aplica

O princípio da insignificância afasta a punição penal em casos de condutas que causam dano mínimo, quando não há relevância jurídica ou ofensividade significativa ao bem protegido pela lei.

Giulia Soares

08 de outubro de 2025

4 min de leitura

Princípio da insignificância: conceito, aplicação e jurisprudência

O princípio da insignificância é um tema recorrente no mundo jurídico, justamente pela abundância de jurisprudência que possibilita a elaboração de inúmeras discussões.

Mas afinal, o que significa esse princípio e como ele atua no Direito Penal?

O que é o princípio da insignificância?

O princípio da insignificância parte do pressuposto de que o Direito Penal, por sua natureza fragmentária, deve intervir apenas quando necessário para proteger bens jurídicos relevantes.

Ou seja, não se destina a punir condutas consideradas bagatelas.

Na prática, isso significa que atos de baixo potencial ofensivo, que causem prejuízo mínimo, não justificam a aplicação das normas penais mais severas.

Um exemplo clássico é o furto de um sabonete avaliado em R$ 2,00 Apesar de tecnicamente configurar crime de furto, a medida de prisão seria desproporcional frente ao pequeno valor do bem subtraído.

Princípio da insignificância e a teoria do crime

Para compreender a aplicação do princípio da insignificância, é essencial entender a teoria tripartida do crime, segundo a qual um crime é composto por três elementos: tipicidade, antijuridicidade e culpabilidade.

O princípio da insignificância atua diretamente sobre o primeiro elemento – a tipicidade. Isso significa que, se uma conduta não produzir um prejuízo relevante, não há fato típico, e consequentemente, não há crime.

Tipicidade formal x material

  • Tipicidade formal: ocorre quando a conduta do agente se enquadra no tipo penal descrito em lei. Ex.: subtrair uma caneta configura furto formalmente.
  • Tipicidade material: avalia o desvalor da conduta e o prejuízo real causado. Se o dano for irrelevante, não há tipicidade material, e a conduta se torna atípica.

Portanto, no exemplo da caneta, apesar de haver tipicidade formal, a tipicidade material está ausente, justificando a aplicação do princípio da insignificância.

Jurisprudência e exemplos práticos

O estudo da jurisprudência é fundamental para compreender como o princípio da insignificância é aplicado nos tribunais. Alguns casos recorrentes incluem:

I - Crimes contra o patrimônio

  • Furto de pequenos valores: aplicável;
  • Furto de celular: aplicável em determinados contextos;
  • Furto qualificado e furto em unidade prisional: geralmente não aplicável.
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II - Crimes ambientais

O STJ reconheceu a aplicação do princípio da insignificância em casos de menor relevância ambiental, como pequenas infrações de pesca, por exemplo (HC 143208-SC).

III - Crimes que não admitem a aplicação

  • Roubo (art. 157, CP): devido ao uso de violência ou grave ameaça;
  • Tráfico de drogas: mesmo que a quantidade seja pequena, envolve risco social e saúde pública;
  • Violência doméstica (Lei Maria da Penha): inaplicável;
  • Moeda falsa e furto qualificado em regra: inaplicável.

IV - Outros casos

  • Descaminho: aplicável até R$ 20.000, conforme STF e STJ.

Requisitos para a aplicação do princípio da insignificância

O STF consolidou critérios objetivos para a aplicação do princípio da insignificância:

  1. Mínima ofensividade da conduta;
  2. Ausência de periculosidade social;
  3. Reduzido grau de reprovabilidade;
  4. Inexpressividade da lesão ao bem jurídico.

A presença desses quatro requisitos permite que a conduta seja considerada atípica, afastando a incidência de punição penal.

Por que estudar a jurisprudência é essencial?

As decisões recentes do STF e STJ são fundamentais para compreender a aplicação do princípio da insignificância.

Informativos semanais resumem julgados importantes, servindo como guia de estudo e fonte para questões de exames de ordem.

Além disso, acompanhar a jurisprudência garante que advogados e estudantes estejam atualizados, especialmente em casos que envolvem crimes com valores mínimos, furtos ou infrações ambientais.

Considerações finais

O princípio da insignificância é um mecanismo que evita que o Direito Penal seja usado de forma desproporcional. Atua sobre a tipicidade do crime, permitindo que condutas de baixo potencial ofensivo não sejam criminalizadas.

Estudar os requisitos do STF, a teoria do crime e a jurisprudência mais recente é essencial para dominar o tema e estar preparado para provas e atuação prática no Direito.

O conteúdo desta página refere-se à legislação vigente no momento da publicação.

Giulia Soares

OAB/SP 471.425

Advogada. Bacharel em Direito pela Universidade Paulista. Especialista em Direito do Trabalho pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).