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Como Funciona a Pensão Socioafetiva

A pensão socioafetiva é paga por quem assume o papel de pai ou mãe por afeto e convivência, mesmo sem vínculo biológico, garantindo apoio financeiro à criança ou adolescente.

Giulia Soares

03 de outubro de 2025

6 min de leitura

Pensão socioafetiva: entenda direitos e obrigações

As estruturas familiares têm se transformado ao longo dos anos, e o conceito de paternidade e maternidade ultrapassa os vínculos biológicos.

A pensão socioafetiva surge como um instituto jurídico que reconhece a responsabilidade de quem assume o papel de pai ou mãe por laços afetivos e convivência, mesmo sem relação sanguínea.

Neste artigo, você encontrará informações detalhadas sobre como funciona a pensão socioafetiva, os critérios legais para sua concessão, exemplos práticos, implicações jurídicas e como se proteger.

O que é pensão socioafetiva?

A pensão socioafetiva é a obrigação de fornecer alimentos a uma criança ou adolescente com base em um vínculo afetivo consolidado.

Esse vínculo pode ocorrer quando, por exemplo, um padrasto ou madrasta assume responsabilidades parentais, participa da educação e do cuidado diário e estabelece uma relação de dependência emocional e financeira com o enteado.

Em essência, o instituto garante que o interesse da criança seja protegido, mesmo sem laço biológico direto.

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem reconhecido que esse vínculo, quando consistente, confere os mesmos deveres que o vínculo biológico, incluindo a prestação de alimentos.

Embora a pensão socioafetiva não esteja expressamente prevista no Código Civil, o art. 1.694 estabelece que parentes podem pedir alimentos uns aos outros.

A jurisprudência tem expandido essa interpretação, reconhecendo que o vínculo socioafetivo consolidado pode gerar obrigações legais equivalentes às de um pai ou mãe biológico.

O Supremo Tribunal Federal e o STJ já afirmaram que não há hierarquia entre paternidade biológica e socioafetiva, garantindo igualdade de direitos e deveres.

Exemplo prático

Imagine Renato, que viveu dois anos com Camila, participando ativamente da criação de seu filho, Lucas, fruto de outro relacionamento.

Renato ajudava com a escola, atividades diárias e decisões importantes. Após a separação, ele decide não contribuir mais financeiramente.

Há a possibilidade de que o tribunal reconheça que Renato assumiu o papel de figura paterna, criando um vínculo de dependência socioafetiva. Assim, ele é obrigado a pagar pensão, mesmo não sendo o pai biológico.

Quem pode ser responsável pela pensão socioafetiva?

A obrigação pode recair sobre:

  • Padrastos e madrastas que assumem papel parental;
  • Namorados(as) que se tornam figuras parentais, participando da criação e sustento da criança;
  • Outros parentes próximos que estabelecem vínculo afetivo e de dependência com a criança.

É importante destacar que o vínculo socioafetivo deve ser comprovado judicialmente para gerar obrigação de pagamento.

Critérios considerados para reconhecimento

Para que a pensão socioafetiva seja reconhecida, os tribunais analisam:

  • Tempo de convivência: Relações longas e estáveis aumentam a probabilidade de reconhecimento do vínculo socioafetivo.
  • Participação na criação: Cuidar da educação, saúde e bem-estar da criança é um indicativo importante.
  • Reconhecimento da criança: Se a criança vê o adulto como figura parental, esse aspecto é decisivo.
  • Provas e testemunhas: Depoimentos, fotos, documentos escolares e médicos ajudam a comprovar o vínculo.
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Como evitar a pensão socioafetiva

Para evitar que a relação gere obrigações legais, é recomendável:

  1. Definir limites claros na convivência com o menor.
  2. Manter o genitor biológico ativo na vida da criança.
  3. Formalizar acordos financeiros durante a separação.
  4. Evitar assumir decisões parentais sozinho, deixando claro que não está assumindo o papel de pai ou mãe.

Procedimento judicial

O pedido de pensão socioafetiva é feito via ação de alimentos, com apresentação de provas:

  • Testemunhos e depoimentos sobre o vínculo afetivo.
  • Documentos escolares, médicos e fotos que evidenciem a convivência.
  • Laudos psicológicos ou relatórios de assistência social, quando necessário.

O juiz avaliará a necessidade da criança e a capacidade financeira do responsável para fixar o valor da pensão.

Responsabilidade do pai ou mãe socioafetivo

O adulto socioafetivo assume obrigações similares às de um genitor biológico, incluindo:

  • Pagamento de pensão alimentícia.
  • Participação em decisões importantes da vida da criança.
  • Possível direito a benefícios previdenciários, como pensão por morte, em alguns casos.

Implicações psicológicas

Além das obrigações legais, o vínculo socioafetivo tem impacto emocional. A perda abrupta de uma figura parental pode gerar traumas na criança, reforçando a importância do reconhecimento judicial para assegurar continuidade do suporte afetivo e financeiro.

O reconhecimento da relação socioafetiva assegura a estabilidade emocional da criança, prevenindo possíveis traumas causados pela ausência repentina de uma figura parental importante.

Como solicitar pensão socioafetiva

  1. Identifique o vínculo socioafetivo: Reúna fotos, mensagens e relatos que comprovem o relacionamento.
  2. Consulte um advogado especializado: Um profissional ajudará a orientar a estratégia e documentos necessários.
  3. Prepare a ação judicial: O advogado redigirá a petição, fundamentando o pedido na relação de afeto e necessidade da criança.
  4. Colete provas: Laudos psicológicos, histórico escolar e testemunhas reforçam o pedido.
  5. Aguarde a decisão judicial: O juiz definirá o valor da pensão conforme a necessidade da criança e capacidade financeira do responsável.

Implicações legais da pensão socioafetiva

O reconhecimento do vínculo socioafetivo impacta:

  • Obrigações financeiras: Pagamento de pensão.
  • Decisões parentais: Participação em escolhas importantes da criança.
  • Direitos sucessórios: Potencial direito à herança.

Além disso, a não observância da obrigação alimentar pode levar à execução judicial, multa, prisão civil ou restrições ao nome.

Considerações finais

A pensão socioafetiva reflete a evolução das relações familiares, reconhecendo que a paternidade ou maternidade não se limita ao sangue, mas envolve cuidado, afeto e responsabilidade.

Tanto a criança quanto o adulto socioafetivo têm direitos e deveres, que devem ser analisados caso a caso, sempre com base no melhor interesse da criança.

O conteúdo deste artigo baseia-se na legislação vigente e tem finalidade informativa.

Giulia Soares

OAB/SP 471.425

Advogada. Bacharel em Direito pela Universidade Paulista. Especialista em Direito do Trabalho pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).