
Princípio In Dubio Pro Reo: Entenda Como Funciona
O princípio in dubio pro reo garante que, diante de dúvida sobre a culpa do acusado no processo penal, o juiz deve decidir em favor do réu e absolvê-lo.

Giulia Soares
03 de setembro de 2025
4 min de leitura

Giulia Soares
03 de setembro de 2025
4 min de leitura
Compartilhe
In dubio pro reo: como funciona o princípio da dúvida no processo penal
O princípio do in dubio pro reo é uma das bases mais importantes do processo penal brasileiro.
Em tradução livre, significa “na dúvida, a favor do réu”, assegurando que ninguém seja condenado sem provas suficientes que demonstrem sua culpa além de qualquer dúvida razoável.
Neste artigo, vamos explicar o conceito de in dubio pro reo, sua relação com a presunção de inocência, a previsão legal no Código de Processo Penal e as recentes mudanças trazidas pela Lei nº 14.836/2024.
O que é in dubio pro reo?
O in dubio pro reo é um princípio de interpretação das provas no processo penal. Ele garante que, caso persista dúvida sobre a responsabilidade criminal do acusado, o juiz deve decidir pela absolvição.
Trata-se de uma forma de proteção contra condenações injustas e está diretamente ligado à presunção de inocência, prevista no art. 5º, inciso LVII, da Constituição Federal:
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;
Previsão legal no Código de Processo Penal
Embora não esteja expressamente nomeado no Código de Processo Penal (CPP), o princípio encontra respaldo no art. 386, VII:
Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça: (...) VII – não existir prova suficiente para a condenação.
Isso significa que a ausência de provas cabais impede a condenação, mesmo que haja indícios ou suspeitas contra o acusado.
Quando aplicar o in dubio pro reo?
O princípio se aplica principalmente:
- Na fase de julgamento, após a análise de todas as provas e depoimentos.
- Quando houver dúvida razoável sobre a prática do crime ou sobre a autoria.
- Em casos de empate em julgamentos colegiados, após a entrada em vigor da Lei nº 14.836/2024.
É importante destacar que ele atua sobre a interpretação das provas e não sobre a interpretação da lei.
In dubio pro reo e a Lei nº 14.836/2024
A Lei nº 14.836/24 trouxe novidade relevante ao art. 615 do CPP. O parágrafo primeiro passou a estabelecer que, em julgamentos penais ou processuais penais realizados em órgãos colegiados, havendo empate, deve prevalecer a decisão mais favorável ao réu.
§ 1º Em todos os julgamentos em matéria penal ou processual penal em órgãos colegiados, havendo empate, prevalecerá a decisão mais favorável ao indivíduo imputado, proclamando-se de imediato esse resultado, ainda que, nas hipóteses de vaga aberta a ser preenchida, de impedimento, de suspeição ou de ausência, tenha sido o julgamento tomado sem a totalidade dos integrantes do colegiado. (Redação dada pela Lei nº 14.836, de 2024)
Antes da lei, esse entendimento aparecia apenas em regimentos internos de tribunais, como o STJ e o TJ/MG, e se aplicava de forma restrita, principalmente em habeas corpus. Agora, a regra ganhou força legal e alcance mais amplo.
Limitações do princípio no Tribunal do Júri
Embora o juiz togado esteja vinculado ao in dubio pro reo, no Tribunal do Júri a decisão depende da íntima convicção dos jurados, que podem levar em conta elementos extraídos de valores morais, culturais e religiosos.
Nesses casos, a aplicação prática do princípio pode ser relativizada.
Por que o in dubio pro reo é essencial?
A lógica do sistema penal é clara: é preferível absolver um culpado do que condenar um inocente. Assim, o in dubio pro reo garante que a dúvida sempre jogue a favor da liberdade, reforçando:
- A presunção de inocência;
- O devido processo legal;
- O direito à ampla defesa.
Considerações finais
O princípio do in dubio pro reo funciona como um escudo contra decisões penais injustas.
Sua positivação pela Lei nº 14.836/24 fortalece o sistema de garantias do acusado, impondo aos tribunais a obrigação de aplicar a dúvida em favor do réu, inclusive nos julgamentos colegiados em caso de empate.
Ainda que sua aplicação não seja absoluta em todos os cenários, o in dubio pro reo é indispensável para a manutenção da justiça e da equidade no processo penal.
O conteúdo desta página refere-se à legislação vigente no momento da publicação.
Artigos recomendados

Como Criar uma Petição com IA Agora Mesmo
Descubra como elaborar uma petição em minutos com o auxílio da inteligência artificial no guia completo da Lawdeck.

Giulia Soares
07 de fevereiro de 2025
5 min de leitura

O Que Significa Conclusos Para Despacho?
"Conclusos para despacho" é uma expressão jurídica que significa que o processo está aguardando a análise do juiz, que irá emitir uma decisão sobre o caso.

Giulia Soares
23 de dezembro de 2024
6 min de leitura

As 10 Melhores Plataformas Jurídicas em 2024
Com o avanço da inteligência artificial, novas plataformas surgiram para facilitar tarefas jurídicas. Identificamos as mais promissoras para 2024, após pesquisa detalhada.

Aline Monteiro
28 de março de 2024
23 min de leitura