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Homicídio Doloso: O Que Significa?

O homicídio doloso é o ato de matar alguém com a intenção de fazê-lo ou assumindo o risco de que isso aconteça. Entenda as nuances desse crime grave e as penas aplicáveis.

Giulia Soares

20 de março de 2025

9 min de leitura

O que é homicídio doloso?

Um crime é definido como homicídio doloso quando o autor tem a intenção de matar (dolo direto) ou assume o risco de que sua ação possa causar a morte (dolo eventual).

Essa distinção é fundamental no Direito Penal, pois estabelece o grau de responsabilidade e consciência do agente.

Para identificar um homicídio doloso, é preciso analisar o contexto, as ações do autor e a relação entre sua conduta e o resultado.

No dolo direto, a intenção de matar é evidente. No dolo eventual, o agente não deseja a morte, mas age de forma tão arriscada que aceita a possibilidade de que ela ocorra.

Quando o crime é doloso? A importância do dolo no homicídio doloso

A caracterização do dolo é crucial para determinar se um crime é classificado como homicídio doloso.

O dolo é a intenção, a vontade livre e consciente de praticar o ato que resulta na morte de outra pessoa, ou a assunção do risco de produzir esse resultado, conforme definição do art. 18 do Código Penal (CP):

 >Art. 18 - Diz-se o crime:

I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;

É importante ressaltar que o dolo é um elemento subjetivo, ou seja, está relacionado ao estado mental do autor no momento do crime.

Por isso, a investigação busca evidências que demonstrem essa intenção ou a aceitação do risco.

  • Dolo direto: O autor tem a intenção clara e consciente de tirar a vida de outra pessoa. Um exemplo é alguém que dispara contra outra pessoa com o propósito de matá-la, caracterizando o dolo direto;
  • Dolo eventual: Nesse caso, não há uma intenção direta de matar, mas o agente assume o risco de que sua conduta possa resultar na morte de alguém.

Por exemplo, uma pessoa que dirige em alta velocidade e embriagada em uma área movimentada com pedestres.

Embora não tenha o propósito explícito de matar, ela aceita o risco de que seu comportamento possa levar a esse desfecho.

Em ambos os casos, trata-se de homicídio doloso, pois o autor tinha consciência das possíveis consequências de seus atos e, ainda assim, prosseguiu com a conduta.

Qual a pena para homicídio doloso? Detalhes e variações

A pena para homicídio doloso varia conforme a classificação do crime – simples ou qualificado – e as circunstâncias agravantes ou atenuantes.

O homicídio doloso simples prevê uma pena de reclusão de 6 a 20 anos, conforme o artigo 121, caput, do Código Penal. Mas, se o homicídio for qualificado, a pena pode ser muito maior.

O juiz pode considerar fatores como arrependimento, colaboração com a Justiça, crueldade, motivo fútil ou torpe para aumentar ou diminuir a pena-base.

A presença de qualificadoras, como motivo torpe ou emprego de tortura, pode elevar a pena para 12 a 30 anos de reclusão.

É importante lembrar que cada caso é único, e a análise individual é fundamental para a dosimetria da pena no homicídio doloso.

Homicídio doloso e o réu primário: Quais as consequências?

Ser réu primário, ou seja, não ter antecedentes criminais, pode trazer alguns benefícios no julgamento de um caso de homicídio doloso.

O juiz pode considerar o fato como um evento isolado na vida do réu e aplicar uma pena mais próxima do mínimo legal, especialmente se não houver qualificadoras graves.

Além disso, um réu primário pode ter maior chance de progressão de regime, passando do fechado para o semiaberto mais rapidamente.

No entanto, é crucial lembrar que o homicídio doloso é um crime grave, e a primariedade não elimina a responsabilidade pelo ato.

A defesa pode explorar as circunstâncias do caso e as características do réu para buscar uma pena mais branda.

Ferramentas de inteligência artificial para advogados, disponíveis na Lawdeck, podem auxiliar a defesa a encontrar decisões favoráveis em casos semelhantes e construir uma estratégia mais eficaz.

As diferenças cruciais entre homicídio doloso e culposo

A principal diferença entre homicídio doloso e culposo reside na intenção ou aceitação do risco.

No homicídio doloso, o autor tem a intenção de matar ou assume o risco de causar a morte.

No homicídio culposo, não há essa intenção, e a morte ocorre por imprudência, negligência ou imperícia.

As penas também são diferentes.

No homicídio culposo, a pena é de detenção de 1 a 3 anos, podendo ser convertida em alternativas.

No homicídio doloso, as penas são significativamente mais altas, de 6 a 30 anos de reclusão.

Homicídio simples e qualificado no contexto do homicídio doloso

Dentro do homicídio doloso, existem as classificações de simples e qualificado.

O homicídio doloso simples é aquele sem agravantes ou qualificadoras, com pena de 6 a 20 anos de reclusão.

Já o homicídio doloso qualificado apresenta circunstâncias que tornam o crime mais grave, como motivo torpe, crueldade, recurso que dificulte a defesa da vítima ou para assegurar outro crime.

Verifique a disposição sobre o homicídio qualificado, prevista no § 2º do art. 121 do Código Penal.

Trago aqui alguns incisos do § 2º do art. 121 do Código Penal:

I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;

Motivo torpe é aquele que a sociedade considera moralmente repugnante. Por exemplo, cometer um homicídio por preconceito racial.

II - Por motivo fútil;

Motivo fútil é aquele desproporcional e irrelevante. Por exemplo, tirar a vida de um caixa de mercado por um erro no troco.

III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;

Meio insidioso é aquele ardiloso e desleal, como o uso de veneno. Meio cruel é o que causa sofrimento intenso, como a prática de tortura.

Já o meio que pode resultar em perigo comum é aquele que coloca um número indeterminado de pessoas em risco, como a utilização de explosivos.

No homicídio qualificado pela tortura (art. 121, § 2º, III, do CP), a morte da vítima ocorre com dolo.

Por outro lado, na tortura qualificada pelo resultado morte (art. 1º, § 3º, da Lei 9.455/97), a morte decorre de culpa.

IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossivel a defesa do ofendido;

Traição ocorre quando a vítima é atacada de forma inesperada, sem chance de defesa.

Emboscada refere-se a uma tocaia, uma armadilha preparada para surpreender a vítima.

Já a dissimulação envolve ocultar a intenção hostil, como através do uso de disfarce.

V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:

Trata-se de conexão teleológica (quando relacionada à execução) ou consequencial (quando visa à ocultação, impunidade ou obtenção de vantagem).

Por exemplo, o agente elimina o segurança para, em seguida, sequestrar a criança e exigir resgate dos pais.

Qualquer um desses fatores eleva a pena para 12 a 30 anos de reclusão, refletindo a maior gravidade do ato.

A Lei nº 8.072/90, mais conhecida como Lei dos Crimes Hediondos, define esses casos como hediondos, tornando a punição ainda mais severa, conforme o art. 1º, inciso I.

O processo penal em casos de homicídio doloso envolve investigação policial, inquérito, denúncia do Ministério Público e julgamento perante a Justiça.

A polícia reúne provas, ouve testemunhas e realiza perícias.

O Ministério Público, com base no inquérito, pode apresentar denúncia perante o Judiciário.

Esse processo é complexo e exige uma defesa técnica especializada e bem estruturada.

A Lawdeck oferece ferramentas de inteligência artificial para advogados que podem auxiliar na análise de jurisprudência e na elaboração de estratégias de defesa mais eficazes.

Outras questões relevantes sobre homicídio doloso

O que significa homicídio triplamente qualificado?

O homicídio triplamente qualificado ocorre quando três qualificadoras estão presentes.

Embora todos sejam considerados, apenas um fator qualifica o crime, enquanto os demais impactam a dosimetria da pena.

Como resultado, a pena-base é aumentada, refletindo a gravidade extrema do delito.

Do que se trata o homicídio preterdoloso?

Homicídio preterdoloso acontece quando o agente quer lesionar, mas acaba causando a morte sem ter essa intenção.

É considerado um tipo de homicídio doloso, mas com o dolo não abrangendo o resultado final.

As penas são menores que as do homicídio doloso direto, mas maiores que as do homicídio culposo.

O crime preterdoloso é caracterizado pela presença de dois elementos subjetivos: dolo na conduta inicial e culpa no resultado subsequente.

Há, assim, um ato inicial doloso e um resultado final culposo.

Na fase inicial, o agente age com dolo, ou seja, tem a intenção de causar o resultado.

A Lawdeck oferece uma plataforma de inteligência artificial para advogados com recursos para analisar casos de homicídio preterdoloso e encontrar jurisprudência relevante.

O conteúdo desta página refere-se à legislação vigente no momento da publicação.

Giulia Soares

OAB/SP 471.425

Advogada. Bacharel em Direito pela Universidade Paulista. Especialista em Direito do Trabalho pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

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