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Estado de Sítio: O Que É e Como Funciona

O estado de sítio é uma medida constitucional excepcional para proteger a ordem em situações graves, como guerra ou comoção nacional. Decretada pelo Presidente com autorização do Congresso, que pode suspender direitos temporariamente.

Giulia Soares

09 de julho de 2025

6 min de leitura

Estado de sítio: o que é, quando pode ser decretado e quais suas consequências

O estado de sítio é a medida mais drástica prevista pela Constituição Federal para lidar com situações de grave instabilidade institucional.

Por sua natureza excepcional, exige procedimento rigoroso para sua decretação, com controle político prévio e concomitante, além da observância de limites constitucionais expressos.

Neste artigo, explicamos o conceito de estado de sítio, suas hipóteses legais, o processo de decretação, sua duração, as medidas que podem ser adotadas e os controles aplicáveis.

O que é estado de sítio?

O estado de sítio é um regime jurídico excepcional que permite a restrição de direitos e garantias fundamentais com o objetivo de preservar a ordem constitucional em situações extremamente graves.

Sua regulamentação está nos arts. 137 a 139 da Constituição Federal de 1988.

Trata-se da mais intensa forma de restrição de liberdades no ordenamento brasileiro, sendo precedida de solicitação ao Congresso Nacional e dependente de autorização legislativa.

Quando o estado de sítio pode ser decretado?

As hipóteses legais estão taxativamente previstas no art. 137 da CF/88. O Presidente da República pode solicitar ao Congresso Nacional a autorização para decretar o estado de sítio nos seguintes casos:

I - Comoção grave de repercussão nacional

Quando há distúrbios que atingem a ordem pública em todo o território ou em parte relevante dele, comprometendo a estabilidade institucional.

II - Ineficiência das medidas adotadas durante o estado de defesa

Quando o estado de defesa foi insuficiente para conter a situação de anormalidade, e os riscos à ordem permanecem.

III - Declaração de estado de guerra ou agressão armada estrangeira

Situações de conflito internacional, como invasões ou ataques ao território nacional.

Quem pode decretar o estado de sítio?

A titularidade para a decretação é do Presidente da República, que deve previamente ouvir:

  • O Conselho da República (art. 90, I, CF);

Art. 90. Compete ao Conselho da República pronunciar-se sobre:
I - intervenção federal, estado de defesa e estado de sítio;

  • O Conselho de Defesa Nacional (art. 91, §1º, II, CF).

§ 1º Compete ao Conselho de Defesa Nacional:
II - opinar sobre a decretação do estado de defesa, do estado de sítio e da intervenção federal;

Embora obrigatória, essa consulta possui caráter opinativo, ou seja, não vinculante.

A seguir, o Presidente deve solicitar autorização ao Congresso Nacional, que decide por maioria absoluta (art. 137, parágrafo único, CF).

Parágrafo único. O Presidente da República, ao solicitar autorização para decretar o estado de sítio ou sua prorrogação, relatará os motivos determinantes do pedido, devendo o Congresso Nacional decidir por maioria absoluta.

Durante o recesso parlamentar, o Presidente do Senado convocará sessão extraordinária para deliberação em até 5 dias (art. 138, §2º).

§ 2º Solicitada autorização para decretar o estado de sítio durante o recesso parlamentar, o Presidente do Senado Federal, de imediato, convocará extraordinariamente o Congresso Nacional para se reunir dentro de cinco dias, a fim de apreciar o ato.

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Duração do estado de sítio

A duração varia conforme o fundamento da decretação:

  • Art. 137, I (comoção nacional ou ineficácia do estado de defesa): O estado de sítio, com base no art. 137, I da CF, pode ser decretado por até 30 dias, e cada prorrogação também não pode ultrapassar esse prazo (art. 138, §1º).
  • Art. 137, II (guerra ou agressão estrangeira): Pode vigorar enquanto perdurar o conflito, sem prazo definido (art. 138, §1º).

§ 1º O estado de sítio, no caso do art. 137, I, não poderá ser decretado por mais de trinta dias, nem prorrogado, de cada vez, por prazo superior; no do inciso II, poderá ser decretado por todo o tempo que perdurar a guerra ou a agressão armada estrangeira.

Quais medidas podem ser adotadas no estado de sítio?

a) Fundamento: Art. 137, I – comoção grave ou ineficácia do estado de defesa

Somente podem ser aplicadas as medidas expressamente previstas no art. 139 da CF:

  1. Obrigação de permanência em local determinado;
  2. Detenção em edifício distinto do destinado a presos comuns;
  3. Restrições à correspondência, comunicações, imprensa, rádio e TV (com exceção de pronunciamentos parlamentares liberados pela respectiva Mesa);
  4. Suspensão da liberdade de reunião;
  5. Busca e apreensão domiciliar;
  6. Intervenção em empresas de serviços públicos;
  7. Requisição de bens.

b) Fundamento: Art. 137, II – guerra ou agressão armada estrangeira

Não há rol taxativo na Constituição. A doutrina admite a suspensão de qualquer garantia constitucional, desde que:

  • Haja autorização do Congresso Nacional;
  • Sejam respeitados os princípios da necessidade e temporariedade;
  • As garantias suspensas estejam explicitadas no decreto presidencial (art. 138, caput).

Trata-se de situação excepcionalíssima, em que se admite o sacrifício temporário de direitos fundamentais para proteção da soberania nacional.

Controle político do estado de sítio

O estado de sítio está sujeito a controles rígidos por parte do Congresso Nacional:

I - Controle prévio: Antes da decretação, o Congresso deve autorizar expressamente, por maioria absoluta (art. 137, parágrafo único).

II - Controle concomitante: Durante a vigência, uma Comissão composta por cinco membros do Congresso acompanha e fiscaliza a execução das medidas (art. 140, CF/88), o mesmo previsto no estado de defesa.

Art. 140. A Mesa do Congresso Nacional, ouvidos os líderes partidários, designará Comissão composta de cinco de seus membros para acompanhar e fiscalizar a execução das medidas referentes ao estado de defesa e ao estado de sítio.

Conclusão

O estado de sítio é um mecanismo de exceção, reservado a momentos de extrema gravidade institucional.

Sua decretação envolve etapas formais rigorosas, controle legislativo e limitação expressa às restrições de direitos. Mais do que um simples instrumento político, representa um verdadeiro teste à resiliência do Estado Democrático de Direito.

O conteúdo desta página refere-se à legislação vigente no momento da publicação.

Giulia Soares

OAB/SP 471.425

Advogada. Bacharel em Direito pela Universidade Paulista. Especialista em Direito do Trabalho pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).