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Endosso: O Que é, Tipos e Modalidades

O endosso é o ato formal que transfere a titularidade de um título de crédito do endossante (credor original) para o endossatário (terceiro).

Giulia Soares

23 de julho de 2025

7 min de leitura

Endosso: o que é, para que serve e como funciona na prática empresarial

O endosso é um dos institutos mais relevantes dentro do direito empresarial, especialmente quando se trata de títulos de crédito.

Mesmo com a digitalização de documentos e a evolução dos meios de pagamento, esse instrumento ainda é amplamente utilizado — inclusive de forma eletrônica — por empresas e instituições financeiras.

Neste artigo, você entenderá de forma clara o que é o endosso, quais são suas modalidades e tipos, como ele se diferencia da cessão civil de crédito e por que advogados e operadores do direito devem estar atentos às suas particularidades.

O que significa endosso no direito?

O endosso é um ato formal que permite a transferência de um título de crédito para outra pessoa, ou seja, o credor original (chamado de endossante) transfere seus direitos a um terceiro (o endossatário).

Trata-se de uma forma de circulação de títulos “à ordem”, que confere dois efeitos principais:

  • Transfere a titularidade do crédito;
  • Gera responsabilidade do endossante, salvo em caso de endosso “sem garantia”.

Essa transferência ocorre em diversos tipos de títulos de crédito, tais como:

  • Letras de câmbio;
  • Cheques;
  • Duplicatas;
  • Notas promissórias.

O objetivo principal do endosso é viabilizar a circulação desses títulos, facilitando a transferência dos direitos que eles conferem.

A transmissão do título só se concretiza com a entrega física do documento, ou seja, quando o credor entrega oficialmente o título ao novo beneficiário. Essa prática está respaldada no artigo 904 do Código Civil, que determina:

Art. 904. A transferência de título ao portador se faz por simples tradição.

Esse mecanismo é previsto atualmente nos artigos 910 e seguintes do Código Civil e tem aplicação frequente em títulos como cheques, notas promissórias, duplicatas e letras de câmbio.

Por que o endosso é importante?

Ao permitir a circulação de títulos de crédito, o endosso facilita operações comerciais e financeiras entre empresas, bancos, fornecedores e clientes. Ele confere agilidade e segurança jurídica às relações que envolvem pagamentos futuros.

O simples ato de assinar o verso do título já pode ser suficiente para sua transferência, sendo possível indicar ou não o nome do novo credor.

O endosso está regulado pelo Código Civil, que estabelece:

Art. 910. O endosso deve ser lançado pelo endossante no verso ou anverso do próprio título.
§ 1º Pode o endossante designar o endossatário, e para validade do endosso, dado no verso do título, é suficiente a simples assinatura do endossante.
§ 2º A transferência por endosso completa-se com a tradição do título.
§ 3º Considera-se não escrito o endosso cancelado, total ou parcialmente.

Modalidades de endosso: em branco e em preto

A forma como o título é transferido define a modalidade do endosso. As duas principais são:

Endosso em branco

Nesse tipo de endosso, o nome do beneficiário não é indicado. O título passa a ter natureza ao portador, podendo ser transferido apenas pela tradição (entrega física).

O portador do título pode, se desejar, identificar-se ou nomear um terceiro, convertendo o endosso em branco em endosso em preto.

Endosso em preto

Aqui, o endossatário é identificado expressamente. Essa forma mantém um controle mais claro da cadeia de transferências, sendo ideal para situações em que se deseja preservar o rastreamento de quem é o titular atual do crédito.

Tipos de endosso: próprio e impróprio

Além das modalidades, o endosso também se classifica quanto à sua finalidade. Ele pode ser:

Endosso próprio

É aquele que transfere plenamente a titularidade do crédito. O novo credor assume todos os direitos sobre o título.

Endosso impróprio

Ocorre quando o endosso não tem como objetivo a simples transferência de titularidade, mas sim garantir ou permitir a representação do credor original.

Aqui, destacam-se duas subespécies:

Endosso-caução

É utilizado como garantia de dívida. O título é transferido ao endossatário, mas a titularidade só será definitiva caso a dívida não seja quitada.

Endosso-mandato

Concede poderes ao endossatário para que este cobre ou represente o endossante. É comum em cobranças feitas por instituições financeiras.

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Endosso póstumo: o que é?

Também chamado de endosso tardio, essa modalidade ocorre após o vencimento do título. Nesses casos, a transferência não produz os efeitos típicos do endosso.

Em vez disso, é considerada uma cessão civil de crédito, sem a coobrigação do endossante.

Essa prática é comum em empresas de cobrança, que adquirem créditos vencidos para buscar o recebimento por vias judiciais ou extrajudiciais.

Diferença entre endosso e cessão civil de crédito

Embora ambos tenham como objetivo a transferência de crédito, existem diferenças marcantes:

AspectoEndossoCessão civil de crédito
FormaAto unilateral, realizado no próprio títuloContrato formal, bilateral
OponibilidadeNão se opõem exceções pessoais ao endossatário de boa-féO devedor pode alegar vícios da relação original
ResponsabilidadeEndossante pode ser coobrigadoCedente não responde pela inadimplência
AgilidadeRápido e simplesMais burocrático

Exemplo prático

Uma loja de móveis vende um lote de produtos para um comerciante e, como forma de pagamento, recebe uma nota promissória com vencimento em 60 dias.

Antes do vencimento, a loja decide utilizar essa nota promissória como pagamento a um fornecedor e realiza o endosso do título.

Passados os 60 dias, o comerciante alega que parte dos móveis foi entregue com defeito e se recusa a pagar o valor da nota.

No entanto, o fornecedor que recebeu a nota promissória por endosso — e que não participou da relação entre a loja e o comerciante — poderá cobrar o valor integral, pois adquiriu o título de boa-fé.

O comerciante, se quiser, deverá discutir o problema da entrega diretamente com a loja de móveis, e não com o fornecedor que recebeu o crédito.

Esse é o poder do endosso: ele garante segurança jurídica para quem adquire o título de boa-fé.

Considerações finais: o que o advogado deve observar?

Para os advogados que atuam com cobrança, execução ou assessoria empresarial, é essencial entender as consequências jurídicas do endosso, especialmente em relação:

  • À validade das assinaturas e identificação de endossantes/endossatários;
  • À data da transferência e seu impacto sobre a coobrigação;
  • À possibilidade de vícios formais, que podem afetar a exigibilidade do título.

Além disso, é preciso saber distinguir o endosso da cessão civil, pois isso pode determinar quem responde pela obrigação e em quais condições o crédito será exigido.

O conteúdo desta página refere-se à legislação vigente no momento da publicação.

Giulia Soares

OAB/SP 471.425

Advogada. Bacharel em Direito pela Universidade Paulista. Especialista em Direito do Trabalho pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).