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Contribuinte Individual: Quem É e Como Funciona

O contribuinte individual é a pessoa física que trabalha por conta própria ou presta serviços a empresas sem vínculo empregatício. Ele é segurado obrigatório do INSS e deve contribuir com alíquota de 5%, 11% ou 20%, conforme o caso.

Giulia Soares

30 de junho de 2025

6 min de leitura

Contribuinte Individual: quem é, como se enquadra e quais as implicações jurídicas

No âmbito da seguridade social brasileira, o contribuinte individual representa uma das principais categorias de segurados obrigatórios do Regime Geral de Previdência Social (RGPS).

A sua identificação correta é fundamental não apenas para fins previdenciários, mas também para evitar equívocos em fiscalizações, cálculos de contribuição e enquadramentos jurídicos em processos trabalhistas e tributários.

Neste artigo, abordaremos quem pode ser considerado contribuinte individual, quais são as hipóteses legais previstas, e como esse conceito se diferencia das demais categorias de segurados.

O que é o contribuinte individual?

A figura do contribuinte individual foi consolidada pela Lei n.º 9.876/1999, que unificou os antigos segurados "empresário", "trabalhador autônomo" e "equiparado a autônomo".

Atualmente, essa categoria abrange as pessoas físicas que exercem atividade remunerada por conta própria ou que prestam serviços a empresas sem vínculo empregatício, tanto na zona urbana quanto rural.

Ou seja, o contribuinte individual é, de regra, aquele trabalhador que não se encaixa nas demais categorias do RGPS — como empregado, empregado doméstico, trabalhador avulso ou segurado especial — mas que ainda assim exerce uma atividade que gera renda.

A lógica do enquadramento: por exclusão

Para efeitos práticos, se a pessoa exerce atividade remunerada e não pode ser enquadrada nas demais formas de segurado obrigatório, então será considerada contribuinte individual.

Essa sistemática simplifica o estudo e o entendimento do conceito, já que parte da exclusão para a inclusão residual na categoria.

Hipóteses legais do contribuinte individual

O Regulamento da Previdência Social (RPS), em seu art. 9º, inciso V, apresenta uma lista exemplificativa de pessoas físicas que se enquadram como contribuintes individuais. Algumas das mais relevantes são:

  • Quem presta serviços de forma eventual a uma ou mais empresas, sem vínculo empregatício;
  • Quem exerce atividade econômica por conta própria, com ou sem fins lucrativos;
  • Proprietários ou não que exploram atividade agropecuária, pesqueira ou de extração mineral, com auxílio de terceiros;
  • Diretores não empregados e membros de conselhos de administração de sociedades anônimas;
  • Síndicos e administradores condominiais remunerados (inclusive mediante isenção de taxa condominial);
  • Ministros religiosos, desde que recebam valores em função da quantidade ou natureza do trabalho;
  • Notários, registradores, médicos residentes, transportadores autônomos, taxistas, feirantes, artesãos, entre outros.

A lista é extensa e está prevista nos dispositivos do art. 9º, V, do Decreto nº 3.048/1999 (RPS), com detalhamento também no §15.

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Qual o valor da contribuição do contribuinte individual?

O valor da contribuição do contribuinte individual ao INSS varia conforme a forma de atuação e os objetivos previdenciários do segurado.

As alíquotas possíveis são 5%, 11% ou 20%, aplicadas sobre valores entre o salário mínimo e o teto previdenciário. Veja as principais formas de contribuição:

  • Plano simplificado (11%): Destinado a autônomos sem CNPJ que contribuem por GPS. A alíquota de 11% aplica-se sobre o salário mínimo. Não dá direito à aposentadoria por tempo de contribuição, salvo com complementação de 9%.
  • Plano normal (20%): Aplicável a autônomos que desejam contribuir sobre valores superiores ao mínimo. Dá direito a todos os benefícios, inclusive aposentadoria por tempo de contribuição. A contribuição é feita por GPS com os códigos 1007 (urbano) ou 1287 (rural).
  • Prestadores de serviço para pessoa jurídica (11%): A contribuição é retida na fonte pela empresa contratante e incide sobre o pró-labore ou remuneração. Abrange também sócios e administradores com CNPJ.
  • MEI (5%): O Microempreendedor Individual contribui com 5% sobre o salário mínimo, incluído no DAS-MEI. Essas contribuições também não contam para aposentadoria por tempo de contribuição, a não ser que o MEI complemente com mais 15%.

Diferença entre contribuinte individual e outras categorias

A principal distinção do contribuinte individual em relação ao segurado empregado está na ausência de subordinação jurídica. O contribuinte individual atua com autonomia, assumindo os riscos da sua própria atividade.

Além disso, não há direito a FGTS, aviso prévio, férias ou 13º salário — direitos típicos da relação de emprego.

Do ponto de vista previdenciário, contudo, o contribuinte individual também é segurado obrigatório e, por isso, tem direito aos benefícios previdenciários, desde que tenha cumprido os requisitos legais (carência, qualidade de segurado e contribuição).

MEI e contribuinte individual: qual a relação?

O Microempreendedor Individual (MEI) também é considerado contribuinte individual. No entanto, o MEI possui um regime diferenciado de tributação, optando pelo recolhimento unificado de impostos e contribuições em valores fixos mensais, conforme os termos da Lei Complementar nº 123/2006.

Ou seja, todo MEI é contribuinte individual, mas nem todo contribuinte individual é MEI — já que os demais não contam com os benefícios do regime simplificado.

Prepostos e parceria: atenção ao enquadramento

Outro ponto relevante envolve os casos em que a atividade é exercida por meio de prepostos ou parceiros (meeiros).

Quando, por exemplo, um proprietário rural outorga a terceiros a exploração de sua terra, ele continua sendo contribuinte individual, desde que a relação configure parceria ou arrendamento, e não uma relação de emprego.

Nessas situações, é fundamental observar a legislação e a doutrina para diferenciar os elementos da relação jurídica e evitar enquadramentos indevidos.

Conclusão

O contribuinte individual é uma figura ampla, com diversas formas de atuação e implicações previdenciárias relevantes.

Para advogados que atuam nas áreas trabalhista, previdenciária ou empresarial, dominar o conceito e as hipóteses legais de enquadramento é essencial.

O conteúdo desta página refere-se à legislação vigente no momento da publicação.

Giulia Soares

OAB/SP 471.425

Advogada. Bacharel em Direito pela Universidade Paulista. Especialista em Direito do Trabalho pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).