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Civil Law vs Common Law: Guia Completo

O Civil Law é baseado em leis codificadas organizadas em códigos, enquanto o Common Law se fundamenta em precedentes judiciais para orientar novos julgamentos.

Giulia Soares

24 de outubro de 2025

9 min de leitura

Civil Law e Common Law: entenda as diferenças e como elas impactam o Direito

Os sistemas Civil Law e Common Law representam mais do que formas distintas de aplicar o Direito — eles refletem visões diferentes sobre Justiça, Estado e sociedade.

Enquanto alguns países priorizam a letra da lei, outros dão maior peso às decisões judiciais passadas.

Mas afinal, o que diferencia esses dois modelos jurídicos e como esse conhecimento pode influenciar a prática e a carreira de quem atua no meio jurídico?

Neste artigo, você vai compreender a origem, as características e as principais diferenças entre os sistemas Civil Law e Common Law, além de conhecer os países que os adotam e o impacto prático na advocacia.

O que é Civil Law?

O Civil Law, também chamado de direito romano-germânico, é um sistema jurídico baseado em leis codificadas. Nele, as regras estão organizadas em códigos e estatutos que orientam a aplicação do Direito.

Surgido na Europa continental, o modelo tem origem no Direito Romano, que foi resgatado após a Idade Média e influenciou profundamente países como França, Alemanha e Itália.

Esse sistema é predominante em países da América Latina, Europa, Ásia e África, influenciados por tradições jurídicas europeias.

O modelo é amplamente codificado, ou seja, as normas jurídicas estão organizadas em códigos e estatutos que definem direitos, deveres e procedimentos.

Seu principal objetivo é garantir segurança jurídica e previsibilidade, permitindo que cidadãos e profissionais compreendam as regras aplicáveis às suas relações.

Além disso, o Civil Law tem foco nas relações entre indivíduos e entidades privadas, tratando de temas como contratos, propriedade, família, herança e obrigações.

No Brasil, o Civil Law foi adotado desde a colonização portuguesa. Por isso, o papel do juiz é interpretar e aplicar a lei escrita, sem criar novas normas a partir de casos concretos.

Entre os principais códigos que estruturam o sistema jurídico brasileiro estão:

  • Código Civil: regula relações entre pessoas e empresas (família, contratos, sucessões, obrigações etc.);
  • Código Penal: define crimes e suas punições;
  • Código de Processo Civil (CPC): estabelece as regras para o trâmite dos processos cíveis;
  • Código de Defesa do Consumidor (CDC): protege os direitos dos consumidores;
  • Consolidação das Leis do Trabalho (CLT): regula as relações trabalhistas entre empregadores e empregados.
  • Código Tributário Nacional (CTN): organiza o sistema fiscal e tributário.

Características do Civil Law

O sistema Civil Law se destaca por uma estrutura normativa clara e hierarquizada. A seguir, veja suas principais características:

I - Ênfase na lei escrita: O Civil Law baseia-se em normas codificadas, reunidas em códigos como o Código Civil, Penal e de Processo Civil. A legislação escrita é a principal fonte do Direito, e os costumes têm papel secundário.

II - Estrutura hierárquica dos códigos: Há um código central — geralmente o Código Civil — que define princípios gerais, enquanto outros códigos complementares tratam de áreas específicas, como o Direito do Consumidor, Trabalhista e Administrativo.

III - Juízes como aplicadores da lei: Os magistrados não criam o Direito, mas aplicam as normas existentes aos casos concretos, assegurando a observância da legislação vigente.

IV - Papel limitado dos precedentes: As decisões judiciais anteriores não têm força vinculante. Servem apenas como orientação interpretativa, sem obrigar outros juízes.

V - Procedimento inquisitorial: O juiz tem atuação ativa no processo, podendo investigar, requisitar provas e ouvir testemunhas para buscar a verdade dos fatos.

VI - Busca por segurança e previsibilidade: A codificação das leis proporciona estabilidade, uniformidade e clareza nas decisões, garantindo maior segurança jurídica aos cidadãos e operadores do Direito.

O que é Common Law?

O Common Law surgiu na Inglaterra, no século XII, como uma tentativa de unificar as decisões judiciais em todo o reino.

Para dar mais estabilidade ao sistema, foi criado o “direito comum”, aplicável a todo o país — daí o nome Common Law.

Diferentemente do Civil Law, esse modelo não se baseia em códigos escritos, mas sim em precedentes judiciais. Ou seja, as decisões de tribunais em casos anteriores servem como referência para novos julgamentos.

O Common Law é baseado na jurisprudência, ou seja, nas decisões anteriores dos tribunais.

Quando um juiz decide um caso, esse julgamento pode servir como precedente obrigatório para futuras decisões semelhantes — princípio conhecido como stare decisis (“manter-se firme nas decisões passadas”).

Com o tempo, o Common Law passou a valorizar a experiência judicial e o protagonismo dos juízes, que constroem o Direito por meio de suas decisões.

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Países que adotam o Common Law

O modelo do Common Law se espalhou principalmente por países que foram colônias britânicas, ainda que cada um tenha adaptado suas próprias regras processuais. Entre os principais exemplos estão:

  • Inglaterra: berço do sistema, onde os precedentes têm força vinculante;
  • Estados Unidos: aplica o Common Law na maioria dos estados, com ampla valorização da jurisprudência;
  • Canadá: sistema misto, com predominância do Common Law, exceto na província de Quebec;
  • Austrália: segue fortemente o modelo inglês;
  • Índia: adota o Common Law mesmo com constituição própria;
  • África do Sul: sistema híbrido, combinando influências britânicas e locais.

Características do Common Law

O sistema Common Law é dinâmico e fortemente dependente da prática judicial. Suas principais características incluem:

I - Flexibilidade e adaptação: O Common Law se ajusta rapidamente a novas situações, como questões tecnológicas, ambientais ou de direitos humanos, graças à evolução contínua da jurisprudência.

II - Precedentes e stare decisis: As decisões dos tribunais superiores criam regras obrigatórias para casos semelhantes, garantindo coerência e estabilidade no sistema.

III - Desenvolvimento jurisprudencial: O Direito se desenvolve por meio de decisões sucessivas, construindo doutrinas e princípios que permitem ao sistema se atualizar conforme as mudanças sociais.

IV - Discricionariedade judicial: Os juízes têm autonomia para interpretar e adaptar os entendimentos legais aos fatos concretos, moldando a aplicação do Direito à realidade de cada caso.

V - Procedimento contraditório: O processo é adversarial - as partes apresentam provas e argumentos, e o juiz ou júri atua como árbitro imparcial da disputa.

Diferenças entre Civil Law e Common Law

Embora ambos os sistemas tenham o mesmo propósito — garantir a aplicação da Justiça —, Civil Law e Common Law diferem quanto à fonte principal do Direito, ao papel do juiz e à forma de adaptação às mudanças sociais.

AspectoCivil LawCommon Law
Fonte do DireitoLeis escritas e codificadasDecisões judiciais anteriores (precedentes)
Papel do juizAplica a lei, com menor margem interpretativaCria e interpreta regras a partir dos casos
FlexibilidadeDepende de alterações legislativasAdapta-se rapidamente a novos contextos
PrevisibilidadeAlta, pois a lei é estável e geralMenor, por depender de decisões variáveis
Exemplo práticoEm direito tributário, o juiz decide com base no CTNJuiz baseia-se em precedente semelhante

Qual sistema é mais eficiente?

Não existe um sistema jurídico “melhor” entre Civil Law e Common Law. Cada um reflete a história e a cultura jurídica dos países que o adotam.

O Common Law é mais dinâmico, pois evolui a partir das decisões judiciais. Já o Civil Law é mais estruturado e previsível, garantindo uniformidade.

Na prática, a eficiência depende menos do modelo e mais da forma como ele é aplicado e fiscalizado. Um sistema bem administrado e acessível à população pode ser eficiente em qualquer formato.

Qual sistema é adotado no Brasil?

O Brasil segue predominantemente o modelo Civil Law, herdado da tradição romano-germânica e influenciado pelo Código Napoleônico.

Nosso ordenamento jurídico é estruturado em leis e códigos, e o papel do juiz é o de interpretar e aplicar essas normas aos casos concretos.

Contudo, o sistema brasileiro incorpora elementos do Common Law, especialmente após o Código de Processo Civil (CPC/2015), que reforçou o uso de precedentes obrigatórios — como os temas de repercussão geral e os recursos repetitivos.

Assim, o Brasil adota um modelo híbrido, que busca unir a segurança do Civil Law à flexibilidade da jurisprudência do Common Law.

A importância de compreender Civil Law e Common Law na carreira jurídica

Entender as bases do Civil Law e Common Law é essencial para profissionais do Direito que atuam em contextos internacionais, em áreas como contratos, direito trabalhista, arbitragem, compliance e direito empresarial.

O domínio desses conceitos facilita a interpretação de cláusulas contratuais estrangeiras, o diálogo com juristas de outros países e a compreensão da evolução do Direito em escala global.

Além disso, esse conhecimento é cada vez mais valorizado, tornando o profissional mais preparado, crítico e versátil.

Considerações finais

Os sistemas Civil Law e Common Law representam duas formas distintas de estruturar o Direito, mas ambas buscam o mesmo ideal: garantir justiça e segurança jurídica.

Mais do que uma questão teórica, compreender esses modelos ajuda advogados, juízes e estudantes de Direito a desenvolverem uma visão comparada e global do sistema jurídico, essencial para atuar em um mundo cada vez mais interconectado.

O conteúdo deste artigo baseia-se na legislação vigente e tem finalidade informativa.

Giulia Soares

OAB/SP 471.425

Advogada. Bacharel em Direito pela Universidade Paulista. Especialista em Direito do Trabalho pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).