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Boa-fé: Entenda o Conceito e Aplicações

Boa-fé é o princípio jurídico que exige honestidade, lealdade e respeito nas relações entre as partes.

Giulia Soares

26 de agosto de 2025

5 min de leitura

Boa-fé no Direito: entenda o poder desse princípio jurídico

Você já ouviu falar no princípio da boa-fé?

Ele está presente em praticamente todas as relações jurídicas e pode ser decisivo em casos concretos, tanto no Direito Civil quanto em outros ramos do direito.

Mais do que uma regra abstrata, a boa-fé funciona como um verdadeiro guia de conduta, exigindo lealdade, honestidade e respeito entre as partes.

Neste artigo, vamos explorar sua importância prática, diferenças entre boa-fé objetiva e subjetiva, além de exemplos reais que demonstram sua aplicação.

O que é o princípio da boa-fé?

De forma simples, o princípio da boa-fé representa o dever de agir com correção, transparência e cooperação nas relações jurídicas.

É como se fosse um “acordo implícito” para que as partes não enganem umas às outras e mantenham a confiança recíproca.

Esse princípio, herdado do Direito Romano, é hoje um dos pilares do Direito Privado brasileiro, mas sua aplicação vai muito além dos contratos civis, alcançando também o Direito do Consumidor, Administrativo e até situações pré-contratuais.

Diferença entre boa-fé objetiva e boa-fé subjetiva

A boa-fé apresenta duas vertentes distintas: objetiva e subjetiva. Confira a seguir suas principais diferenças:

Boa-fé subjetiva

Ligada às intenções internas do sujeito, a boa-fé subjetiva considera a convicção pessoal de que alguém está agindo de forma correta.

Exemplo: o comprador que acredita estar adquirindo um produto legítimo ou o inquilino que paga aluguel acreditando que o contrato é válido.

Boa-fé objetiva

Já a boa-fé objetiva, prevista no artigo 422 do Código Civil, vai além das intenções pessoais.

Ela estabelece padrões de comportamento exigíveis de todos, como lealdade, probidade e cooperação.

Aqui, não basta acreditar que está certo – é necessário agir conforme a confiança legítima da outra parte.

Direitos anexos decorrentes da boa-fé

O princípio da boa-fé não se limita a cláusulas escritas. Ele cria deveres implícitos, também chamados de deveres anexos, como:

  • agir com lealdade e respeito;
  • informar corretamente sobre o negócio;
  • cooperar com a outra parte;
  • não frustrar expectativas legítimas;
  • atuar conforme a razoabilidade e a equidade.

Assim, até mesmo sem previsão expressa em contrato, uma parte pode ser responsabilizada se violar esses deveres.

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Exemplos práticos de aplicação da boa-fé

Veja alguns exemplos de como o princípio da boa-fé se aplica na prática do Direito:

I - Boa-fé na fase pré-contratual

Antes mesmo da formalização de um contrato, a boa-fé deve nortear as negociações. Por exemplo, imagine uma empresa que promete a fornecedores locais a compra futura de produtos agrícolas.

Caso a empresa decida não cumprir essa promessa, os fornecedores poderiam reivindicar indenização com base na quebra da boa-fé pré-contratual.

II - Boa-fé em contratos de seguros

O Superior Tribunal de Justiça já considerou que práticas abusivas em contratos de seguro podem violar a boa-fé objetiva.

Um caso típico ocorre quando a seguradora altera unilateralmente as condições de cobertura de um beneficiário antigo, desconsiderando sua contribuição contínua e histórica, o que caracteriza tratamento desigual e desleal.

III - Boa-fé e proteção patrimonial

A boa-fé também se manifesta na proteção de bens essenciais da família.

Por exemplo, um imóvel residencial dado em garantia não pode ser utilizado de forma que prejudique a segurança e a dignidade da família, mesmo que previsto em contrato, pois isso violaria os princípios de lealdade e respeito entre as partes.

IV - Boa-fé nas relações com o poder público

Nas relações entre particulares e a Administração Pública, o princípio da boa-fé também é obrigatório.

Um exemplo seria quando um cidadão cumpre todos os requisitos de um procedimento administrativo e a Administração não pode alterar regras ou exigências de forma inesperada, devendo respeitar a confiança legítima criada durante o processo.

Por que a boa-fé é essencial na advocacia?

Na prática da advocacia, o princípio da boa-fé é um poderoso instrumento argumentativo. Ele pode ser utilizado para:

  • preencher lacunas da lei;
  • interpretar normas de forma mais justa;
  • fundamentar ações indenizatórias;
  • equilibrar relações contratuais desiguais.

O advogado que domina esse princípio consegue identificar violações mesmo em situações sem previsão legal explícita, fortalecendo sua atuação em defesa do cliente.

Considerações finais

O princípio da boa-fé é um dos alicerces mais relevantes do ordenamento jurídico brasileiro.

Ele ultrapassa a literalidade da lei, servindo como filtro de interpretação e aplicação justa das normas.

Seja em contratos privados, planos de saúde, garantias ou nas relações com a Administração Pública, a boa-fé é indispensável para manter a confiança, a cooperação e a justiça nas relações jurídicas.

Em resumo: todo advogado deve usar a boa-fé como ferramenta prática e estratégica em sua atuação profissional.

O conteúdo desta página refere-se à legislação vigente no momento da publicação.

Giulia Soares

OAB/SP 471.425

Advogada. Bacharel em Direito pela Universidade Paulista. Especialista em Direito do Trabalho pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).