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Desistência da Ação: O Que É, Quando É Permitida e Seus Efeitos

A desistência da ação é o ato pelo qual a parte autora manifesta sua vontade de não continuar com o processo que ela mesma ajuizou, encerrando-o voluntariamente conforme as exigências legais.

Giulia Soares

29 de maio de 2025

6 min de leitura

Desistência da ação no CPC: quando é possível e quais as consequências para o autor

A desistência da ação no CPC é um instrumento relevante no cotidiano forense e pode ser utilizada estrategicamente pelo autor para encerrar um processo antes da sentença definitiva.

Essa possibilidade está prevista no Código de Processo Civil e permite ao demandante desistir da ação em diferentes fases processuais, desde que observadas as regras legais aplicáveis.

Neste artigo, vamos analisar quando é possível desistir da ação conforme o CPC, quais são os efeitos jurídicos da desistência, e como ela se distingue de institutos semelhantes como renúncia ao direito e reconhecimento do pedido.

Entenda também os impactos financeiros e processuais dessa decisão.

O que diz o CPC sobre a desistência da ação?

O artigo 485 do CPC estabelece as hipóteses de extinção do processo sem resolução de mérito, sendo a desistência da ação uma delas. Veja o que dispõe o inciso VIII do referido artigo:

Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: [...] VIII – homologar a desistência da ação.

Isso significa que, uma vez homologada a desistência pelo juízo, o processo é encerrado sem que o mérito da demanda seja apreciado. Contudo, a viabilidade da desistência da ação varia conforme o momento processual em que ela é proposta.

Desistência da ação antes da citação: liberdade do autor

Nos termos do CPC, o autor pode desistir livremente da ação antes da citação do réu, sem necessidade de autorização judicial ou anuência da parte contrária.

Trata-se de um ato unilateral, cujo efeito é a extinção do processo sem julgamento de mérito.

Esse é o cenário mais simples e menos oneroso para a parte autora, pois não há resistência do réu e o processo ainda não consumiu tempo ou recursos significativos.

Desistência da ação após a citação: exige consentimento

A situação muda quando já houve citação válida do réu. Nessa etapa, a desistência só pode ocorrer com a concordância expressa do réu, uma vez que ele já passou a integrar a relação processual.

Caso o réu já tenha oferecido contestação, a anuência é obrigatória.

O objetivo é proteger o interesse do réu que, ao ser citado, já foi compelido a participar do processo e, muitas vezes, a constituir advogado e apresentar defesa técnica.

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Efeitos jurídicos da desistência da ação no CPC

A principal consequência da desistência da ação é a extinção do processo sem resolução do mérito. Isso significa que não haverá julgamento sobre o direito material discutido.

Em regra, essa extinção não impede o ajuizamento de nova ação, salvo se houver renúncia ao direito que fundamenta a demanda.

Confira outras consequências relevantes:

I - Extinção sem julgamento do mérito

O processo é encerrado sem análise do pedido principal. Isso mantém o direito de ação do autor, permitindo que ele proponha nova demanda com o mesmo objeto, desde que respeitados os limites legais.

II - Responsabilidade pelas custas processuais

De acordo com o artigo 90 do CPC, o autor que desiste da ação deve arcar com as custas processuais.

Caso o réu já tenha se manifestado no processo, o autor também poderá ser condenado a pagar honorários advocatícios sucumbenciais, a depender da ação proposta.

A responsabilidade pelo pagamento pode variar conforme o momento da desistência, a existência de transação entre as partes e outros fatores definidos nos parágrafos do art. 90.

III - Eventual renúncia ao direito material

Se a petição de desistência contiver renúncia expressa ao direito, o autor não poderá propor nova ação sobre o mesmo objeto.

Isso equivale a uma extinção com resolução de mérito (art. 487, III, "c", do CPC). Essa hipótese é mais comum em acordos homologados judicialmente.

Diferença entre desistência, renúncia e reconhecimento do pedido

Embora relacionados à extinção do processo, esses institutos têm natureza jurídica distinta:

  • Desistência: encerrar o processo sem que o juiz decida o mérito. Pode ocorrer com ou sem anuência da outra parte, conforme o estágio processual.
  • Renúncia: o autor abre mão do próprio direito material, impedindo nova ação sobre o mesmo tema. Gera extinção com julgamento de mérito.
  • Reconhecimento do pedido: ocorre quando o réu admite a procedência do pedido do autor, resultando também em extinção com resolução do mérito.

Posso desistir de um recurso? O que diz o CPC?

Sim, é possível. O artigo 998 do CPC garante ao recorrente o direito de desistir do recurso a qualquer tempo, independentemente de aceitação pela parte contrária. A desistência é unilateral e produz efeitos imediatos.

Ao desistir do recurso, a decisão da instância inferior é mantida, não sendo mais possível sua revisão por tribunal superior. A parte que desiste ainda pode ser responsabilizada pelas custas recursais, conforme as regras locais do tribunal.

Considerações finais: cautela na decisão de desistir

A desistência da ação no CPC é uma ferramenta valiosa, mas que deve ser utilizada com responsabilidade.

Além de afetar o andamento do processo, pode implicar custos ao autor e, eventualmente, limitar o reingresso com nova demanda.

Por isso, é essencial que o advogado avalie cuidadosamente as consequências jurídicas e estratégicas antes de formalizar o pedido de desistência.

Em casos mais complexos, especialmente com o réu já citado, é recomendável negociar previamente com a parte contrária e buscar uma solução consensual para evitar litígios paralelos ou futuras discussões processuais.

O conteúdo desta página refere-se à legislação vigente no momento da publicação.

Giulia Soares

OAB/SP 471.425

Advogada. Bacharel em Direito pela Universidade Paulista. Especialista em Direito do Trabalho pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).